Atrasada e irritada com o motorista do taxi – “bandido bom é bandido morto; as pessoas
hoje em dia acham que podem jogar pedra nas autoridades” – entro apressada na
estação do metrô. Na escada rolante, um rapaz ajuda um senhor idoso e cego a
achar o corrimão e descer, sigo atrás. Estamos só os dois na escada e não
conheço o protocolo da situação. Devo avisá-lo quando estivermos chegando?
Decido que sim, tenho medo que ele caia, eu o atropele e acabe presa por
agressão. “Estamos chegando”... Ele desliza para fora absolutamente tranquilo,
vira-se e pergunta: “posso ir com a senhorita? Vou até a 7 de abril mas uso
aqui como passagem”. Já segurando meu pulso com uma mão leve e macia ele me diz
que quando eu for mudar de caminho não preciso me preocupar, ele acha algum
funcionário do metrô. Caminhamos, eu tento ir mais devagar e ele acelera seu
passo normal. Pergunta meu nome. Inês! Poucas mulheres têm esse nome, é nome de
uma santa, o dia dela é 21 de janeiro. Dou risada e digo que é verdade, poucas
mulheres têm esse nome e é surpreendente que ele saiba o dia da santa. É que
sou católico. A conversa continua, ele se chama Antônio e fazemos aniversário
com exato um mês de diferença, ele em abril, eu em maio. Não há sinal de
constrangimento nele, de peso, não teme estar atrapalhando.
Próximo às catracas, decido levá-lo até a escada rolante, ele aceita contente. A senhorita é paulistana, naturalmente? Explico que nasci em Niteroi e ele se surpreende. Carioca? Fluminense? Não percebo o sotaque. A senhorita é jovem não? Quantos anos tem, 23? Ah, a imensa gentileza dos cegos! Mais, muito mais mas o senhor sabe, uma mulher não conta a idade. Vou colocar a senhorita em minhas orações. Agradeço, mesmo absolutamente herética não acho ruim que um estranho me deseje boas coisas. Chegamos à escada rolante, ele tateia o ar até achar o corrimão, ergue o pé e sobe despedindo-se. Seguro, totalmente seguro que lá em cima haverá outro braço e outra conversa. Viro e começo novamente a andar apressada, estou rindo, a irritação foi-se. A cidade louca e esses estranhos e velhos anjos.
Próximo às catracas, decido levá-lo até a escada rolante, ele aceita contente. A senhorita é paulistana, naturalmente? Explico que nasci em Niteroi e ele se surpreende. Carioca? Fluminense? Não percebo o sotaque. A senhorita é jovem não? Quantos anos tem, 23? Ah, a imensa gentileza dos cegos! Mais, muito mais mas o senhor sabe, uma mulher não conta a idade. Vou colocar a senhorita em minhas orações. Agradeço, mesmo absolutamente herética não acho ruim que um estranho me deseje boas coisas. Chegamos à escada rolante, ele tateia o ar até achar o corrimão, ergue o pé e sobe despedindo-se. Seguro, totalmente seguro que lá em cima haverá outro braço e outra conversa. Viro e começo novamente a andar apressada, estou rindo, a irritação foi-se. A cidade louca e esses estranhos e velhos anjos.
Comentários
Postar um comentário