Volto da caminhada, fones nos ouvidos. Na frente
do Pizza Hut da Pinheiros, me assusto. A uns 10 metros de mim, um adolescente
está parado com as mãos na nuca. Por um segundo não entendo o que está
acontecendo, até ver duas motos da PM paradas próximo à calçada. Os policiais
caminham na direção do garoto que parece igual a qualquer um de sua idade –
bermuda, tênis, moletom, boné na cabeça e mochila nas costas. Passo pelo grupo,
não posso colar neles sob o risco de tornar a situação pior. Vou até a esquina,
entro na minha rua e paro para obsevar a cena meio oculta por um muro. Tenho
receio de que algo mais violento aconteça e penso que talvez possa intervir de
alguma maneira, gritar. Quando me viro, um dos policiais está meio agachado
atrás do garoto e com o braço entre as pernas dele, apalpa a virilha.
Impossível não pensar que há humilhação sexual no gesto, em plena luz do dia,
em uma rua movimentada. Depois ele apalpa os bolsos da bermuda, do moletom,
pede que o rapaz tire o boné e entregue a mochila. Nesse momento chega outro
moço, um pouco mais velho, vestido de forma parecida, só que de jeans e sem
boné. Deve conhecer o outro porque para ao lado e fica esperando, solidário. Um
dos policiais fala algo, parece uma explicação. A mochila é revirada e o
policial pede o documento do rapaz que está levando a geral. Ele entrega, o
policial parece consultar algo pelo celular e devolve, liberando o moço. Eles
se vão, eu me vou. Ficam duas dores: o menino parece absolutamente acostumado a
passar por aquilo, calmo todo o tempo, conhecedor dos códigos da cena. E tenho
certeza de que não preciso dizer de que cor eram o rapaz que levou a geral, e o
que não.
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