Aves e brincos

     Quatro e meia da tarde e começa a anoitecer aqui em Frankfurt. Na ponte metálica, os turistas tiram fotos, como sempre, e os apaixonados prendem cadeados. Desço o caminho que margeia o rio Meno. Uma senhora idosa em uma cadeira de rodas espera que sua cuidadora alimente um bando de patos. Marrons claro, a camada de penas brancas por baixo das asas me faz pensar na beirada de um vestido de noite aparecendo por debaixo de um casaco. Eles são estranhos, gostam de bicar a grama do caminho, quase como galinhas. Passo pela beiradinha do rio, onde gaivotas e corvos procuram alguma coisa para comer. Logo depois dois cisnes brancos se aproximam. Ando até um banco em frente da ilhota, sento e vejo o povo passar. Muitas bicicletas: com bagageiro, com sacolas presas de um lado só, esportistas, com cestos para compras e até uma em que o reboque é um carrinho de bebê - entrevejo pela tela transparente a criança que dorme enquanto o pai pedala para casa. As árvores da ilhota meio que escondem a catedral já iluminada do outro lado do rio. Ao longe, à esquerda, brilham os prédios novos da cidade. No rio, nadam diversos tipos de patos. Tem o colorido com cabeça verde, com a fêmea marronzinha. Uns minúsculos, pretinhos, balançam a cabeça para frente e para trás enquanto nadam, como se estivessem ajudando com o impulso do pescoço o trabalho dos pés espalmados. Um bando dos marronzinhos passa gritando, dando escândalo. Uma mulher desce a rampa com um cão pastor. Vejo um grupo de cisnes se aproximar e me ergo para olhar melhor, acho que ela jogou comida para as aves. Vejo ela arrastar o pastor para longe enquanto os cisnes permanecem bem perto da margem e olham o cão com um ar de quem pergunta "para que tanto escândalo?" Saio de lá leve, com a sensação de um dia perfeito. Ainda encontro amigas. Jantamos em um restaurante alemão e provo vinho de maçã, meio ácido, pouco doce. Ótimo para beber no calor, me dizem, e acredito. Hoje acredito em tudo. Rimos muito, de coisas sérias, o que é ainda melhor. No fim da noite, quando vou trocar de roupa, percebo que perdi um brinco, um dos que mais gosto. Cabe tudo em um dia.

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