Domingo de carnaval, desço a
Serra do mar em direção ao litoral norte. Em alguns trechos vejo a represa de
Paraibuna, quase seca. Nos piores casos, o que sobrou de água lembra um lamaçal
de onde brotam galhos secos fantasmagóricos de árvores mortas há muito tempo,
quando tudo foi coberto pelas águas pela primeira vez. Se fosse só isso, a
viagem seria deprimente, mas sobrou tanta beleza!
Em um paredão de pedra
arrebentado para a passagem da estrada, a água escorre como uma fina película,
o suficiente apenas para brilhar na luz meio abafada do dia. Manacás com flores
rosas e flores brancas em um mesmo pé alinham-se separando a estrada da mata.
Como tem chovido muito, tudo está maravilhosamente verde, até nas encostas da
represa quase seca. A massa compacta de árvores cobre tudo que não seja a
estrada, parece não haver uma igual a outra, até os pinheiros invasores, em um
verde bem mais claro do que o restante, parecem ter dado um jeito de combinar
com o entorno. Do meio dessa massa imensa de árvores, erguem-se torres e mais
torres de neblina. Brancas e ligeiramente esfiapadas, elas são circulares como
pequenos tornados. Parecem eternas, flutuando no ar da manhã mas sei que
lentamente vão desaparecer ao longo do dia. A impressão de paz é tão
grande que tenho vontade de parar o carro, descer e ficar olhando por horas. Penso
em jacarandás, talvez haja um ali, penso em oliveiras, penso em árvores que
vivem milhares de anos. Podemos destruir tudo aquilo, mas quando estivermos
extintos, elas voltarão sem perceber nosso desaparecimento. Apenas estarão ali,
vivas, respirando. Na próxima talvez seja bom voltar árvore.
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