Volto a pé para casa após um jantar com amigos. Conversamos,
dei risada, bebi um pouquinho e a comida estava maravilhosa. As ruas estão
cheias. Com tempo bom e o começo do feriado, muita gente aproveita os bares e
restaurantes. Quase na minha rua, ergo os olhos e vejo um ipê florido, gordos
cachos de um rosa escuro na ponta de cada galho. Acima deles, uma imensa lua
cheia. Meio atrapalhada, paro de andar e olho aquela beleza meio deslocada na
cidade. Faço o gesto de procurar o celular na bolsa mas desisto. Não seria
capaz de fazer uma foto decente daquela árvore e daquela lua lá em cima. Ando mais um pouco, viro à esquerda, já na minha
rua. Quando estou quase na outra esquina, uma luz atrai meu olhar. Vem da
vitrine de uma loja, ou escritório, não dá para saber com certeza o que é o lugar.
Apenas um abajur, colocado no centro da
sala, à esquerda, ilumina tudo. De tamanho médio, cúpula redonda, espalha uma
luz das mais bonitas que já vi, suave, quente,
como imagino que seja a da casa mais acolhedora que já existiu. Colado à janela
de vidro há um aparador de madeira rústica, com uma grande hélice de madeira em
cima, e atrás estranhos bonequinhos equilibristas. Duas poltronas também de
madeira me olham, ainda à frente do abajur, e ao longo da parede da direita
estão encostados quadros. Fico um tempo na entrada, nariz quase colado no
vidro, absorvendo a luz e a calma do lugar.
Não costumamos prestar muita atenção à qualidade da
luz mas para mim ela faz uma diferença imensa na vida. Viajando, caminhava à
noite pelo bairro onde mora minha amiga apenas para aproveitar a iluminação das
casas, lojas e bares, sempre calorosa e suave. Já uma luz errada me deixa
triste, ou me dá desconforto físico real. Lembro de uma lâmpada fluorescente na
cozinha da casa minha mãe que precisou ser trocada, a luz azulada embrulhava meu
estômago. Penso também na luz do elevador do meu prédio que deixa a pele com
uma cor cinza doentia e faz com que qualquer tom de batom pareça horrendo.
Costumo entrar no elevador de olhos baixos para não correr o risco de olhar o
espelho e dou as costas para ele rapidamente, não quero me deprimir
ao sair de casa. A luz branca de led
que coloquei no abajur da sala há cerca de um mês era intolerável, áspera.
Precisei trocá-la por uma amarela para voltar a ter vontade de ler no sofá. Também
a luz dos provadores das lojas mais simples costuma ser desagradável. Ressaltam
cada imperfeição da pele, cada ruga e fazem com que me sinta um pequeno monstro
provando roupas. Outras lojas entendem o que a luz faz pelo negócio. Nessas as
rugas somem, a pele fica perfeita, o batom parece passado por um
maquiador. Fotógrafos brincam com essas
propriedades. A luz das fotos da minha irmã, por exemplo, é doce e costuma atrair tons de vermelho.
Não deve ser à toa que dizem que a alma da casa
está na cozinha, onde brilha o fogo. Nem deve ser por acaso que o designer diz
que a coisa mais importante da vida é estar com o ser amado, a segunda é ter
fogo por perto, e a terceira, prestar atenção à qualidade da luz. O que isso tem
a ver com qualquer coisa? Não faço ideia. Mas tenho certeza de que ele não usa lâmpadas fluorescentes.
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