Aqui começa
o livro dos sentidos
O da cor no
papel
Os do corpo
Os que
inventamos para seguir a vida
Os que
descobrimos para seguir a vida
O sentido
das ondas do mar
O maior que
a terra
que arrasta,
afoga e dá de comer
Você
consegue ver o sentido do ar?
Chama-se tempestade
A noite, não
a dos sonhos
A da mata
fechada
quando é
luva nova
chove
e se está só
Sei, há
também o sol do verão
Ele diz:
tenho medo de viver
Você vê
algum sentido nisso?
Qual o
sentido do medo,
que oculta a
beleza da vida?
Há ainda
estranhos dias
onde tudo se
mistura
o mais belo
e toda a confusão do mundo
Por que a
beleza e a destruição andam juntos?
Talvez
experimentar o amor seja o único sentido
A razão
apenas nos engana,
faz acreditar que é conhecimento
aquele medo
todo
O redondo, o
cheio, o macio,
o forte. O
corpo que dá vida
O sentido da
noite
que aquele
que traz os sonhos
volte
que o hóspede
da noite me visite durante os dias
O sentido do
amor
não o que
junta, casa, faz filho, fica velho juntinho
O que permanece
no subterrâneo, quieto,
respirando,
sentindo um veneno percorrer o sangue
Feche os
olhos, este é o sentido da visão
Bata palmas.
Ouviu?
Este é seu
sentido da audição
Cheire seu
pulso
ou sua axila
Este é o sentido
do olfato
Coma uma
bala
Este é o
sentido do paladar
Passe a mão
em alguém
Aperte seu
corpo no corpo de outro alguém
Este é o
sentido do tato
Aquele que
permite gozar a carne
O sentido da
noite, qual é?
Os que
vieram antes, os que virão depois?
O sentido
absolutamente nenhum da violência
Ainda assim,
o corpo respira e deseja
O sentido
das pequenas faíscas
que não
iniciam incêndio algum
O sentido de
um dia de sol,
com amoras
esmagadas pelo chão
Qual o
sentido desse lento desaparecimento,
o envelhecer?
O sentido da
inveja
não a das
coisas
a do amor
longo
O sentido do
cosmo
E o do
sangue nas veias
O sentido da
esperança
(Mas a
história não acaba aí.
O melhor ainda está para chegar)
A sensação
de que alguém
em algum
lugar, toma conta
talvez não
faça sentido
mas é bom
O sentido do
que não tem igual e sente-se só
E as
pequenas felicidades
No escuro,
no fundo, no frio,
para além do medo
esconde-se o
sentido
Para não esquecer
que há luz e beleza
O sentido do
que nasce: trazer o novo
O sentido do
vazio, o nada
(Aí vem o
gato, enfia as garras na tinta fresca e
ensina o
caminho)
O sentido desses
estranhos tempos
Qual o
próximo passo?
Busco,
busco, busco
e como
qualquer um perdido na floresta
volto ao mesmo lugar de sempre
O estranho
poder do cheiro de um homem
digo amor,
deveria dizer tesão
O uso de
todos os sentidos para o gozo
Os sentidos
de muitos mundos
O sentido do
que olho e ainda não reconheço
Há apenas um
sentido a seguir
O sentido de
apesar de tudo
ser eu mesma
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