(Sobre guerra, não leia se o coração estiver apertado)

Em uma conta aleatória do Instagram, um ator fala lentamente em inglês o poema de Refaat Alareer, poeta palestino morto na guerra Israel-Hamas. Ele pede que caso ele morra, as coisas dele sejam vendidas para comprar material para construir uma pipa, de tal maneira que uma criança que viu o pai desaparecer, possa olhar para o céu e imaginar um anjo.

If I must die
you must live
to tell my story
to sell my things
to buy a piece of cloth
and some strings,
(make it with a long tail)
so that a child, somewhere in Gaza
while looking heaven in the eye
awainting his dad who left in a blaze ̶
and bid no farewell
not even to his flesh
not even to himself ̶
sees my kite, my kite you made, flying up
above
and thinks for a moment an angel is there
bringing back love
if I must die
let it bring hope
let it be a tale
Um dos comentários esclarece que o poeta morreu dias depois de publicar o poema no X e seu corpo ainda está embaixo dos detritos dos bombardeios, assim como de outros milhares. Agora, o Egito constrói uma espécie de área murada enorme para o caso de Rafah, no sul da faixa de Gaza, ser atacada e os palestinos transbordarem a fronteira já que não há para onde ir; a foto mostra um murão e areia, só areia. O palestino que escreve o Diário de Gaza no Guardian está doente, não consegue levantar-se do colchão fino onde dorme, provavelmente por comer comida pobre. Ele pensa em uma caixa de bombons que alguém vai dar/ganhar no Valentine’s day. O fotojornalista Motaz Azaiza, que foi evacuado com a família para Doha, fala das imagens que não pode mostrar, e de cair na rua sobre o corpo de um vizinho morto por um bombardeio, o homem mais gentil que ele conheceu. Incapaz de se controlar, ele uivou feito um bicho quando se deu conta do que havia acontecido. Husam Zomlot, embaixador da Palestina no Reino Unido diz ter perdido oito familiares na guerra. E segue, segue, segue. Alguém disse que quando não é possível suportar olhar algo, chegou a hora de gritar. Eu diria que a hora de gritar passou faz tempo.

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